Mas ele não gosta quando se compara W. ao clássico Cidadão Kane, de Welles
25/04/2009 – 10:37
Alguns atores são tão parecidos com os personagens públicos que interpretam – a maquiagem ajuda – que você fica até tentado a confundir a cópia com o original. Condoleezza Rice/Thandie Newton, Jeffrey Wright/Colin Powell, etc. Não é o menor dos encantos de W., o novo filme de Oliver Stone, que ganhou no Brasil o subtítulo Bye-Bye Bush.
O diretor mais polêmico de Hollywood, o Sr. Controvérsia do cinema norte-americano, fecha sua segunda trilogia. Após a do Vietnã, formada por Platoon, Nascido em 4 de Julho e Céu e Terra, Stone conclui a dos presidentes. Começou com John F. Kennedy, mesmo que JFK, A Pergunta Que não Quer Calar tome como âncora o procurador Jim Garrison, de New Orleans, com sua investigação ‘independente’ sobre o assassinato em Dallas.
A morte de Kennedy é também, metaforicamente, a da democracia na ‘América’. Vieram depois os presidentes da crise – Nixon, com seu envolvimento no escândalo de Watergate, e W., ou melhor, George W. Bush, que chegou à Presidência dos EUA para provar que o cargo mais importante do mundo pode ser exercido com amadorismo.
Bush Jr., filho de presidente – George Bush -, carrega o ônus da prova de ser um dos presidentes mais criticados e mal-amados da história. Durante os oito anos em que ele esteve na Casa Branca, os EUA, acossados pelos ataques de 2001, estiveram ameaçados de perder seu senso de moral – que o atual ocupante do Salão Oval, Barack Obama, quer recuperar levando a julgamento a política antiterror de seu predecessor.
Seria fácil, para um polemista como Stone, demolir uma persona politicamente tão frágil quanto a de George W. Bush. Foi o que fez Michael Moore em seus documentários nos quais tudo é verdade, sim, mas eles (os filmes) também são manipuladores e tendenciosos. Stone seguiu o caminho aparentemente mais árduo.
George W. Bush, para ele, é um personagem, não trágico, mas patético. O próprio fato de ele se concentrar na inicial para nomear o homem possui um significado. Durante boa parte do filme, Bush Jr. não sabe direito o que quer nem possui um projeto político. Mas ele segue a trilha do pai, contra a vontade do próprio. Bush sênior fez a primeira Guerra do Golfo, Jr. lançou os EUA (e o mundo) na segunda.
O autor já definiu George W. Bush como um personagem de tragicomédia. Stone irrita-se quando lhe dizem que ele copiou Orson Welles e criou seu Rosebud, o enigma de Cidadão Kane, em W. No clássico de Welles, Charles Foster Kane vira aquele monstro porque foi separado da mãe – e do trenó – na infância. Mais divã, agora para George W. Ele se interessa mais por esportes do que por política, queria ser atleta, ter um time.
Com o desejo vetado pelo pai, foi ser presidente. Tudo é amadorístico e caricatural, mas verdadeiro, nessa presidência malfadada. Mas existe o afeto da mulher, Laura, pelo marido. O grande embate é edipiano, no Salão Oval, transformado em arena em que George Bush e George W., pai e filho, se enfrentam. Stone busca decifrar o enigma Bush. Agora que ele já foi, fica até mais fácil embarcar na sua viagem.
Por Luiz Carlos Merten da AE
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